Anísio Teixeira, uma das mais emblemáticas figuras da educação no Brasil, foi oficialmente reconhecido como o patrono da escola pública brasileira. Esta designação veio com a sanção de uma lei pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Dia do Professor, em 15 de outubro de 2024. Mas você sabe por que Anísio Teixeira é tão relevante para a nossa educação? Quais foram suas contribuições que o tornaram uma inspiração para gerações de educadores?
ANÍSIO TEIXEIRA: O ÍCONE QUE TRANSFORMOU A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL
Nascido em 1900, na cidade de Caetité, na Bahia, Anísio Teixeira formou-se em Direito pela Universidade do Rio de Janeiro, mas sua paixão pela educação o levou a dedicar a vida a um projeto ambicioso: garantir a democratização do ensino no Brasil. Como um dos maiores defensores da educação pública, laica, gratuita e obrigatória, ele sempre acreditou que a escola deveria ser um agente transformador da sociedade.
Anísio foi um dos principais signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, publicado em 1932, que defendia uma reforma completa no sistema educacional brasileiro. Para ele, a educação não era apenas uma ferramenta para adquirir conhecimento, mas também um caminho para formar cidadãos críticos e conscientes de seu papel na sociedade.
CRIAÇÃO DE INSTITUIÇÕES FUNDAMENTAIS
Como parte de sua visão educacional inovadora, Anísio Teixeira foi um dos responsáveis pela criação da Universidade de Brasília (UnB), inaugurada em 1961. Ele também esteve à frente da fundação da Escola Parque, em Salvador, um projeto pioneiro de educação integral e profissionalizante voltado para crianças de baixa renda.
No campo das políticas públicas, Anísio também dirigiu importantes órgãos educacionais, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que hoje leva seu nome.
A DEFESA DA ESCOLA PÚBLICA
O educador foi um dos criadores da escola pública no Brasil e defensor da democratização do ensino e da transformação social por meio da educação. Sempre defendeu a criação de uma rede de ensino que atendesse a todos, desde os primeiros anos nas escolas até a formação universitária.
Defendia uma educação construtivista, na qual os alunos atuariam como agentes transformadores da sociedade. Manifestava constantemente preocupação com uma educação que fosse “livre de privilégios”, e se dizia contra a educação como “processo exclusivo de formação de uma elite, mantendo a grande maioria da população em estado de analfabetismo e ignorância”, motivo pelo qual se dizia inconformado com a alta taxa de analfabetismo do país.
Seus projetos foram ousados para a época e, infelizmente, muitas vezes confrontaram os interesses de elites que preferiam manter a população sem acesso à educação.
OS DESAFIOS ENFRENTADOS DURANTE O REGIME MILITAR
A trajetória de Anísio foi marcada por obstáculos, especialmente durante o Regime Militar, instaurado no Brasil em 1964. Após o golpe, ele foi exilado nos Estados Unidos, onde lecionou em universidades renomadas como Columbia e Califórnia. Seu retorno ao Brasil ocorreu em 1966, mas o educador continuou enfrentando restrições e perseguições políticas até sua morte, em 1971, sob circunstâncias misteriosas no Rio de Janeiro.
Seu legado, no entanto, permanece vivo. Muitos de seus ideais, como a educação integral e a valorização dos professores, continuam a inspirar debates educacionais até hoje.
A HOMENAGEM MERECIDA: PATRONO DA ESCOLA PÚBLICA BRASILEIRA
Com a sanção da lei que o reconhece como patrono da escola pública, o nome de Anísio Teixeira agora está gravado na história da educação brasileira de forma ainda mais oficial. A cerimônia de assinatura da nova lei foi marcada por um discurso emocionado do presidente Lula, que ressaltou a importância de valorizar a educação e os educadores. “Um país que considera R$ 4 mil muito para um professor é um país que não cuida da educação com o respeito que deveria”, declarou Lula, fazendo referência ao piso salarial da categoria.
REFLEXÃO SOBRE O FUTURO DA EDUCAÇÃO
Hoje, mais do que nunca, o Brasil precisa olhar para o legado de Anísio Teixeira e refletir sobre o futuro da educação pública. O que podemos fazer para garantir que todos os brasileiros tenham acesso a uma educação de qualidade, como sonhava o educador baiano? Como podemos superar os desafios estruturais que ainda existem nas escolas públicas, desde a falta de recursos até a valorização dos professores?
A resposta passa por políticas públicas que priorizem a educação, mas também pela participação ativa de toda a sociedade nesse processo. Como disse Anísio, “a escola pública é o espaço de construção da democracia e da justiça social”. Portanto, o fortalecimento da educação pública é, sem dúvida, um caminho essencial para o desenvolvimento de um país mais justo e igualitário.
O PAPEL DA SOCIEDADE NA CONSTRUÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO MELHOR
E você, já parou para pensar no seu papel na construção de uma educação melhor? Seja como aluno, pai, professor ou cidadão, cada um de nós pode contribuir para o fortalecimento da escola pública no Brasil. E isso vai além de votar em políticos que defendem a educação — passa também por ações cotidianas, como participar ativamente da vida escolar das crianças e jovens, apoiar os professores e promover o diálogo sobre a importância da educação na construção de um futuro melhor.
ANÍSIO TEIXEIRA E A VISÃO DE UMA EDUCAÇÃO PARA TODOS
A história de Anísio Teixeira nos ensina que a educação é a base para a transformação social. Seu legado continua sendo uma inspiração para aqueles que acreditam no poder da escola pública como um espaço de construção da cidadania e da justiça social. O reconhecimento oficial como patrono da escola pública brasileira é uma homenagem mais do que justa a um homem que dedicou sua vida à luta por uma educação acessível e de qualidade para todos os brasileiros.
FRASES DE ANÍSIO TEIXEIRA
Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública.
Choca-me ver o desbarato dos recursos públicos para educação, dispensados em subvenções de toda natureza a atividades educacionais, sem nexo nem ordem, puramente paternalistas ou francamente eleitoreiras.
Como a medicina, a educação é uma arte. E arte é algo de muito mais complexo e de muito mais completo que uma ciência.
Revolta-me saber que dos cinco milhões que estão na escola, apenas 450.000 conseguem chegar a 4ª. série, todos os demais ficando frustrados mentalmente e incapacitados para se integrarem em uma civilização industrial e alcançarem um padrão de vida de simples decência humana.
Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra.
OBRAS DE ANÍSIO TEIXEIRA
- Aspectos americanos de educação (1928)
- Em marcha para a democracia: à margem dos Estados Unidos (1934)
- Educação para a democracia (1936)
- A educação e a crise brasileira (1956)
- Educação não é privilégio (1957)
- Educação e Universidade (1962)
- Educação é um direito (1968)
- Educação no Brasil (1969)
- Educação e o mundo moderno (1969)
- Pequena introdução à filosofia da educação (1971)
Agora, cabe a nós dar continuidade a esse trabalho, enfrentando os desafios atuais e construindo, juntos, um sistema educacional mais inclusivo e transformador.
